Você já se perguntou se todo mundo enxerga o mundo da mesma forma? Por que será que você acha aquele cara bonito sendo que sua amiga não acha? Um outro exemplo é quando você vai visitar um bebê que acabou de nascer e percebe que a mãe está cheia de olheiras, despenteada, mas escuta aquela pessoa que ama aquela mãe dizendo que está linda. Você pode pensar que essa pessoa está mentindo, mas eu diria que não, que é assim que enxerga a parceira naquele momento. Como isso é possível? Se os nossos olhos seguem o mesmo padrão, como cada um pode enxergar o mundo de uma forma diferente?
Ao fundo do nosso globo ocular existe uma camada, a retina, que contém células chamadas de fotorreceptores. Elas funcionam como um tradutor, como as legendas em português que aparecem em um filme que você não conhece a língua. Os fotorreceptores “traduzem” a luz ou a ausência de luz, ou seja, o que estamos olhando em uma linguagem que os neurônios conseguem entender. E você se lembra que os neurônios conversam liberando substâncias químicas, chamadas de neurotransmissores (Veja “O papo do papo dos neurônios”)? Então, quando a imagem é projetada na retina, os fotorreceptores liberam neurotransmissores, transmitindo a mensagem para os neurônios.
Existem fotorreceptores que são sensíveis a cores, outros a movimento, de modo que cada característica da imagem é processada por grupos diferentes de neurônios. É como se o objeto fosse desmembrado mesmo. O problema é que ainda não se sabe exatamente onde todas as características se unem para que possamos perceber todas aquelas formas e cores como sendo uma casa, por exemplo. Uma possibilidade é que não exista uma região específica, várias regiões cerebrais trabalhariam em conjunto nesse momento. E na construção desse objeto entraria muita coisa que a gente já discutiu aqui no blog, a experiência de cada um, ou seja, suas memórias e as emoções associadas. Então, perceba que a construção do objeto final é feita pelo cérebro de cada um. E eu escrevi de cada um, porque cada pessoa tem experiências diferentes e por isso, ninguém enxerga o mundo exatamente da mesma forma, seria impossível. Aliás, essa percepção pode mudar até de um momento para o outro. É bem possível que a pessoa que acha aquela mãe descabelada linda passe a enxergá-la de outra forma após um tempo, quando a emoção do filho que acabou de nascer não está mais tão forte.
Eu não estou dizendo que o mundo é puramente fruto da construção do nosso cérebro, que na verdade ele não existe, como no filme “Matrix”. Existe um mundo físico, você pode pegar, isso é comum a todos. Mas o modo como cada um interpreta esse mundo físico é diferente. Então, o modo como você enxerga aquele cara barbudo com certeza é diferente do modo como a sua amiga enxerga, e por isso você acha o cara feio e sua amiga lindo. Mas cuidado ao criticar demais o modo como o outro enxerga, nós estamos sempre formando novas memórias e reformulando antigas, então é sempre possível mudar o modo como nós enxergamos o mundo. Ainda bem!
Bem legal o seu blog! Vou acompanhar
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