Pular para o conteúdo principal

O papo das emoções nas nossas decisões

Semana passada tivemos a Black Friday, Black Week e tal. Que loucura foi aquela? Pessoal tirando fotos das promoções e mandando por mensagem, discussões sobre qual das ofertas era a melhor e uma galera enfrentando filas absurdas. Eu mesma enfrentei uma, não tão grande porque não tenho tanta paciência, mas perdi uma meia horinha. E no meio dessa loucura você deve ter recebido alguns artigos ou comentários sobre comprar por impulso. Bom, se você estava tão interessado em comprar que não quis ler nenhum artigo que pudesse te desestimular, eu já te digo que de modo geral eles discutem o quanto as pessoas compram sem realmente precisar e o quanto que a emoção prejudica na sua tomada de decisão. Isso você já sabia né? Mas você já ouviu falar sobre o outro lado da moeda, ou seja, que as emoções na verdade seriam essenciais para que você possa tomar uma decisão? 

É, pois é! Antonio Damasio é um dos cientistas que discute essa teoria, ele e seu grupo defendem que as nossas decisões são baseadas nas nossas emoções. Em um de seus estudos, o grupo realizou um jogo no qual os participantes deveriam escolher entre duas pilhas de cartas. Dependendo das cartas escolhidas, o participante ganhava ou perdia dinheiro. Acontece que uma das pilhas de cartas acabava sendo mais vantajosa porque suas cartas faziam com que o participante perdesse menos dinheiro. De modo geral, as pessoas percebiam essa vantagem e passavam a escolher apenas essa pilha. Mas, pacientes com lesão no córtex pré-frontal (uma área que fica na região da frente no nosso cérebro, ali bem próximo da nossa testa) não escolhem essa pilha. Eles dizem que sabem que ela é mais vantajosa, mas mesmo assim não a escolhem. E então você vai perguntar: “Se sabem que ela é mais vantajosa, por que não a escolhem?” O grupo de cientistas mediu uma outra coisa nessa história toda, o quanto a mão dos participantes suava. Oi? É uma forma indireta de se medir a resposta do nosso corpo às emoções. Quando você fica muito feliz o seu coração pode acelerar, não é? Então medir os batimentos do coração (a frequência cardíaca) é uma maneira indireta de se medir a resposta do nosso corpo às emoções, assim como a medida do suor das mãos. Os cientistas viram que os participantes saudáveis aumentavam a sua sudorese durante esse jogo, mas os pacientes com lesão no cérebro não. Portanto, o paciente sabe que aquela pilha de cartas não é a melhor, mas como ele não tem uma resposta emocional (sudorese) para isso, ele não é capaz de fazer a melhor escolha. 

Então, o que os cientistas defendem é que a emoção não te atrapalharia na hora de decidir alguma coisa,  você utilizaria as emoções para decidir sobre essa alguma coisa. E isso não é ruim, é simplesmente como nós somos. É como se a gente analisasse a consequência daquela decisão baseado na emoção: “se eu perder dinheiro eu vou ficar triste, então não vou escolher essa carta”. Isso não é algo voluntário, você não tem consciência disso. Então, não adianta nada você dizer que será racional e não vai considerar suas emoções na hora de comprar a televisão gigantesca na Black Friday. Não adianta nada porque não dá para não considerar. Provavelmente você compra a televisão gigantesca porque na sua previsão baseada nas emoções, a felicidade que você teria ao comprá-la tem um significado maior para você do que para aquele seu amigo que decide não comprar. Agora, qual é a saída para que você decida não comprar aquela televisão eu já não sei, esse é um papo bem diferente dos meus...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O papo das “fake news” e um pouco de pesquisa científica sobre o tema

Preguiça de raciocinar! É o que um artigo recente sugere sobre o fato de acreditarmos nas “fake news”. Você sabe o que é isso né? Sabe, aquelas fotos acompanhadas por uma frase que sempre aparecem nas redes sociais? Ou artigos escritos por sei lá quem, longos textos que têm aparecido cada vez mais por aí... Muitas dessas informações são falsas, são as chamadas “fake news”. E com essa briga toda na política, tudo isso aumentou ainda mais e as pessoas compartilham essas notícias como se fossem verdade, sem nenhum tipo de verificação. Antes de encontrar esse artigo que citei acima, fiquei me perguntando o que leva todo mundo a acreditar em quase qualquer notícia que aparece. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que a pessoa que se identifica com determinado candidato tende a não acreditar nas notícias falsas que prejudiquem a imagem dele. Imaginei que seria semelhante a alguém chegar te falando que aquele seu grande amigo que é honesto e estudioso colou na prova. Com certe

O papo do beijinho pra sarar

Acho que pelo menos uma vez por semana eu digo: “Machucou, filha? Vem aqui que eu vou dar um beijinho para sarar”. Eu já disse isso tantas vezes, que a minha filha brinca que um de seus bonecos bateu a cabeça e me pede para beijá-lo. Eu tenho certeza que você também já disse algo do tipo, e se não disse, é provável que ainda vá dizer. E aí, o beijo sara? Eu diria que sim, se não sara, ao menos diminui a dor.  Quando você bate o dedo na cama, ou encosta a mão na panela muito quente, por exemplo, são ativados neurônios de dor que vão da sua pele até o sistema nervoso central. Lá esses neurônios liberam um neurotransmissor (aquela substância química que expliquei no “Papo dos papos dos neurônios”. É liberando essas substâncias que os neurônios conversam) que pode ativar um segundo neurônio, assim os neurônios seguintes continuam liberando neurotransmissores e você sente dor. Lembra que existem neurotransmissores que ativam e outros que inibem o neurônio seguinte? Pois é, e sempre t

O papo dos neurônios na decisão de tirar a fralda

Aqui em casa estamos em um processo de desfralde. Eu e meu marido na posição de incentivar, tomando cuidado para não pressionar nossa filha, e ela na posição de decidir tirar a fralda. Há alguns meses estávamos nesse processo sem muito sucesso, algumas vezes parecia que ela se animava, mas depois voltava atrás. Até que ontem minha filha tirou a fralda e disse que não ia mais usá-la, e até agora está seguindo firme na decisão. Então parece que entramos oficialmente na fase das calças molhadas e corridas até o banheiro. E aí, como minha filha tomou essa decisão de tirar a fralda? Há meses oferecemos o banheiro para ela aqui em casa, no shopping, na casa dos avós. Algumas vezes ela se interessava, outras não. Começando a traduzir isso em linguagem de neurônio, ela teve uma série de estímulos, algumas vezes eles foram suficientes para desenvolver a resposta de decidir ir ao banheiro, outras vezes não. É claro, que quando falamos de tomadas de decisão dessa complexidade, não dá pra fa