Pular para o conteúdo principal

O papo do colesterol

Sabe aquele papo de que temos que tomar cuidado com o colesterol, fazer exercício físico e comer bem? Nós escutamos falar tanto sobre isso que quando ouvimos falar de colesterol o associamos rapidamente a algo negativo. Para você ter uma ideia, uma vez uma aluna me disse que um de seus familiares “tinha colesterol”. Eu disse a ela que isso era ótimo ou então ele não estaria vivo.

Sem colesterol já era ciclo menstrual, formação dos órgãos sexuais, reprodução, e isso só para começar! É que os hormônios responsáveis por essas funções são produzidos a partir do colesterol. Um dos vários mecanismos que o nosso corpo utiliza para controlar a pressão arterial é a libração do hormônio aldosterona, que também é produzido a partir do colesterol. O colesterol é até um dos componentes da membrana das células.

Só que para conseguir atuar nessas funções o colesterol precisa chegar até a célula, certo? O problema é que ele não se dilui em água. Como as nossas células são banhadas em um líquido que tem muita água, o colesterol precisa ser carregado por alguma coisa para que possa ser transportado de um lado para o outro. Essa alguma coisa são lipoproteínas, elas são solúveis em água, as HDL e LDL. Familiar? Essas siglas vêm escritas no seu exame de sangue, são conhecidas por “colesterol bom” e “colesterol ruim”.

A LDL é importantíssima, além de atuar no transporte do colesterol, é a partir da sua ligação com um receptor na membrana celular que o colesterol consegue entrar na célula. Não adianta nada ter colesterol se ele ficar do lado de fora da célula, ele precisa entrar para exercer suas funções. Mas a pobre coitada da LDL é conhecida como “colesterol ruim”. Isso porque quando em excesso, o colesterol ligado a LDL é englobado por células do sistema imune, desencadeando reações que formarão placas de gordura e eventualmente coágulos. Estes podem entupir as artérias bloqueando o fluxo sanguíneo para as células do nosso corpo. Se o fluxo sanguíneo que vai para o coração que é o bloqueado, ocorre o infarto, então nesse caso é “colesterol ruim” mesmo. Já a HDL é conhecida como “colesterol bom” porque ela ajuda a remover o colesterol do sangue para o líquido que banha as células. Então fica menos colesterol no sangue diminuindo a chance de se formar placas de gordura e consequentemente coágulos que podem atrapalhar o fluxo sanguíneo.  


Então, como muita coisa na vida, o grande o problema é o exagero, colesterol acima dos níveis aceitáveis. Eu acho que na verdade você já sabia disso, assim como eu acho que a minha aluna também sabia. Mas eu resolvi escrever aqui sobre isso, porque acho que aquela frase do “tem colesterol” exemplifica o fato de que a gente escuta falar tão mal do colesterol, e temos que cuidar dele mesmo, que esquecemos que em níveis normais ele é essencial para a vida. Agora, como um hormônio derivado do colesterol pode ajudar a controlar a pressão arterial é outro papo, e dos longos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O papo da atenção

O que é atenção? Atenção é atenção, ué, prestar atenção em alguma coisa. É óbvio, não é? “Preciso prestar atenção nessa aula”, diz o estudante. “Filho, presta atenção no que estou falando”, pede um pai. Atenção é um conceito presente no nosso cotidiano e por isso totalmente intuitivo. Mas, ninguém sabe muito bem o que acontece no nosso cérebro quando se orienta a atenção para alguma coisa, aliás nem os cientistas entenderam todo o processo. Quando você lê esse texto você está orientando a sua atenção voluntariamente para ele. Mas se passar um daqueles carros de som na rua, é bem provável que você pare de prestar atenção no que está lendo para prestar atenção no carro, mesmo que não tire os olhos da tela do computador. É o que acontece, por exemplo, quando seu filho adolescente está te olhando enquanto você fala com ele, mas está pensando em qualquer outra coisa. Olhar, não significa prestar atenção. Então não adianta pedir para o seu filho ou aluno olhar para você, ele deve ...

O papo do beijinho pra sarar

Acho que pelo menos uma vez por semana eu digo: “Machucou, filha? Vem aqui que eu vou dar um beijinho para sarar”. Eu já disse isso tantas vezes, que a minha filha brinca que um de seus bonecos bateu a cabeça e me pede para beijá-lo. Eu tenho certeza que você também já disse algo do tipo, e se não disse, é provável que ainda vá dizer. E aí, o beijo sara? Eu diria que sim, se não sara, ao menos diminui a dor.  Quando você bate o dedo na cama, ou encosta a mão na panela muito quente, por exemplo, são ativados neurônios de dor que vão da sua pele até o sistema nervoso central. Lá esses neurônios liberam um neurotransmissor (aquela substância química que expliquei no “Papo dos papos dos neurônios”. É liberando essas substâncias que os neurônios conversam) que pode ativar um segundo neurônio, assim os neurônios seguintes continuam liberando neurotransmissores e você sente dor. Lembra que existem neurotransmissores que ativam e outros que inibem o neurônio seguinte? Pois é, e semp...

O papo dos dois litros de água

Nós temos que beber dois litros de água por dia, não é? Assim nós mantemos o nosso corpo hidratado e lavamos as toxinas. Todo mundo sabe disso, certo? Eu sempre acreditei nisso e me entupia de água acreditando que estava me fazendo um bem. Até fazia um cálculo de quanto de água deveria beber a cada tanto tempo para completar os dois litros no dia. Até que na faculdade, após uma aula de fisiologia renal, fiquei com uma pulga atrás da orelha e perguntei ao meu professor, que é um pesquisador importantíssimo na área, se esse papo dos dois litros era verdade. Ele me respondeu que só bebia água quando tinha sede. Mas esse papo era tão forte pra mim que eu continuei bebendo toda essa água, mesmo após “O  cara” da fisiologia renal ter me respondido daquela forma. Não me canso de me impressionar como esse conhecimento social é louco, como o que a gente aprende em casa pode ser muito mais forte do que o que se aprende na escola. Eu só fui questionar essa ideia dos dois litros novamente...