Nós
temos que beber dois litros de água por dia, não é? Assim nós mantemos o nosso
corpo hidratado e lavamos as toxinas. Todo mundo sabe disso, certo? Eu sempre
acreditei nisso e me entupia de água acreditando que estava me fazendo um bem. Até fazia um cálculo de quanto de água deveria beber a
cada tanto tempo para completar os dois litros no dia.
Até
que na faculdade, após uma aula de fisiologia renal, fiquei com uma pulga atrás
da orelha e perguntei ao meu professor, que é um pesquisador importantíssimo na
área, se esse papo dos dois litros era verdade. Ele me respondeu que só bebia
água quando tinha sede. Mas esse papo era tão forte pra mim que eu continuei
bebendo toda essa água, mesmo após “O
cara” da fisiologia renal ter me respondido daquela forma. Não me canso
de me impressionar como esse conhecimento social é louco, como o que a gente
aprende em casa pode ser muito mais forte do que o que se aprende na escola. Eu
só fui questionar essa ideia dos dois litros novamente há alguns anos.
O
líquido que fica dentro das nossas células é chamado de líquido intracelular e
o que fica do lado de fora da célula é chamado de líquido extracelular. Este último é formado
pelo plasma, a parte líquida do sangue, e o líquido intersticial, o que banha
as células do nosso corpo. Bom, nesse líquido todo tem água, mas também tem
solutos. A relação da concentração entre eles é chamada de osmolaridade, que
deve ser mantida em certos níveis para que o nosso corpo trabalhe normalmente.
Isso é tão importante que existem células especializadas no sistema nervoso
central em detectar alterações de osmolaridade. Quando ela aumenta, ou seja,
quando tem mais soluto do que água, essas células disparam vários
mecanismos, entre eles a sede, de modo que a osmolaridade volte aos níveis
normais.
Pode
ficar tranquilo, o nosso corpo trabalha com faixas muito estreitas, uma pequena
variação da osmolaridade já desencadeia mecanismos para corrigi-la. E isso
acontece o tempo todo, os mecanismos compensatórios dão conta do recado, e
muito bem, obrigada. Quando bebemos um suco a osmolaridade muda, quando suamos
também. Só teremos um problema sério se a perda de água for muito grande. Então, sentir sede é normal, é fisiológico.
Talvez
esse papo dos dois litros de água venha de um erro de interpretação do que está
escrito em livros de fisiologia, que normalmente ingerimos em média 2 litros de
água por dia. Ingerir em média não significa que você DEVE tomar toda essa
água, significa que as pessoas de maneira geral ingerem mais ou menos isso sem
ficar pensando no assunto, só seguindo sua sede mesmo.
No
entanto, existem alguns fatores sociais que podem atrapalhar a nossa percepção
de sede, se você estiver prestando muita atenção em uma tarefa, é possível que
não perceba que está com sede, por exemplo. Ou o contrário, se você estiver em
um papo muito legal no bar, é muito provável que você tome um monte de líquidos
sem estar sentindo sede. Então, preste atenção na sua sede!
Agora,
lembrem-se que o papo aqui foi sobre o que acontece no adulto em condições
fisiológicas, ou seja, quando o nosso corpo está saudável, funcionando
normalmente. O que acontece em situações patológicas (doença) é outro papo…
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