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O papo de que sentimos mais fome quando está frio

Eu sei que estamos na primavera, está calor (ou deveria estar), mas esses dias me lembrei daquele papo de que sentimos mais fome quando está frio. A explicação mais frequente que se escuta para isso é a de que no frio precisamos manter o nosso corpo aquecido, como para isso é necessário gastar mais energia, nós sentimos mais fome. Você já ouviu isso, né?

Então vamos lá, para começar, o que será que faz você sentir fome? A explicação mais consolidada e a primeira a ser descrita nos livros de fisiologia é a de que existe um centro da fome e outro centro da saciedade em uma estrutura do nosso cérebro, chamada de hipotálamo. Quando o primeiro centro é estimulado nós sentimos fome, quando o segundo centro é estimulado nos sentimos satisfeitos. O problema é que muita coisa pode estimular esse centro da fome. Uma das teorias é que ele é estimulado quando o nível de glicose do sangue cai, outra diz que é estimulado quando os estoques de gordura diminuem. Certo, guarde essas informações por enquanto.

Agora vamos pensar no frio. Quando a temperatura do ambiente cai, nós perdemos calor para o ambiente, e por isso, é necessário que alguns mecanismos sejam desencadeados para que a temperatura do nosso corpo permaneça controlada, ou as nossas células não serão capazes de trabalhar adequadamente. Um desses mecanismos é tremer, na verdade são nossos músculos que tremem, que se contraem em um certo ritmo e isso gera bastante calor. E nesse ponto você poderia dizer que para tremer é necessário gastar energia, e por isso, precisaríamos comer mais para repor essa energia. Sim, faz sentido, mas quando você sente frio você fica aí na sua casa tremendo ou vai buscar um cobertor? Pois é, outro mecanismo que o nosso corpo utiliza para minimizar a perda de calor é desencadear respostas comportamentais, por exemplo, vestir uma roupa mais quente ou ficar próximo de uma fonte de calor, como uma lareira. Então, para uma pessoa que consegue se aquecer por meio dessas respostas comportamentais, esse aumento da fome por aumento de gasto energético não se justifica.

Mas você vai dizer que você realmente come mais no frio, principalmente aquelas comidas mais quentinhas, um chocolate quente, uma sopinha, aquelas comidas mais aconchegantes. É que o controle da fome é muito mais complexo do que o mecanismo de diminuição de glicose ou de reservas de gordura. O cheiro, a imagem, também são estímulos importantes para que você coma. Afinal, o gosto pode ser o mesmo, mas se o bolo quebrou, ele vai fazer muito menos sucesso na sua festa do que aquele bolo que saiu inteirinho, bonitinho da assadeira. E para complicar ainda mais a situação ou, a meu ver para deixar o funcionamento do nosso copo ainda mais interessante, os fatores psicológicos influenciam muito, muito mesmo a nossa fome, ou melhor dizendo, a nossa vontade de comer.


Esse maior apetite no frio pode ser muito bem explicado por esses fatores psicológicos, e não pela necessidade de mantermos a temperatura do nosso corpo. É por isso que ultimamente escutamos falar tanto para não dizer para as crianças que elas devem comer tudo, ou para não comer na frente da televisão (não que seja fácil, também sou mãe, eu sei), lá na frente isso pode influenciar o quanto essa pessoa vai comer. Se você pensar bem, quando esfriava te ofereciam uma bebida quente. Quando está frio, as pessoas não querem passear na rua, no parque, querem ficar dentro de um ambiente aquecido, o que costuma ser um restaurante ou em volta da mesa da sua casa, e acabam comendo. E eu não estou dizendo que isso é ruim, muito pelo contrário, a comida sim dá prazer e aproxima as pessoas. O problema é sempre comer demais ou sempre utilizar o prazer da comida como substituto para outro prazer, mas aí já é outro papo importante e bem mais complicado.  

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